sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Harmônica





Dia 22 de janeiro, eu estava em Goiânia às voltas com o término do meu "Em família", quando nasceu o texto que reproduzo abaixo. 
Acabei de encontrá-lo, por isso não aproveitei nada no texto final. (Sim, às vezes me acontece perder alguma coisa...)

Ao lado resolvi colocar uma das únicas fotos que tenho do meu avô paternos, o seu Ferreira, Ferreirinha como o pai lhe chamava. Ele tocava mesmo acordeão, e era mesmo sapateiro e repentista!

Mas sei tão pouco dele que só pude escrever sonhos no texto que resolvi criar...



" Harmônica (primeiro rascunho)

O avô tocava acordeão, que chamava de harmônica.
Ensinou o filho mais novo a tocar também.
Alegre, mesmo nas dificuldades, fazia música e poesia com a mesma facilidade e empenho com que fabricava seus sapatos (era sapateiro de profissão).
Muitos caminhos suas mãos ajudaram a trilhar, com conforto e beleza, porque fazer sapatos é isso: enfeitar e preparar os passos dos outros para o ir em frente..."

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Antes do depois - ou de como o poeta passou a morar no meu avesso -

Foi assim...
O encontrei quase menina, e suas palavras silenciaram por dentro de mim… Difícil descobrir que coração não toma sol...
Percorri suas páginas como pedaços dele mesmo, sem vendas nem segredos.
Tive certeza de que onde tem fada, tem bruxa, porque conviver não é nada fácil. Aliás, muitas vezes a vida é mesmo uma faca afiada!
Fui seguindo olhando seus voos de longe, esvoaçando meus mergulhos através de suas palavras. Sempre distantes como o peixe e o pássaro. Sempre iguais em nossas diferenças...
Aprendi sobre os domingos e as borboletas. Sobre o Menino de Belém, suas Escrituras e as variadas Correspondências com a realidade, porque afinal as palavras sabem muito mais longe!
Um menino revestido de suas imaginações, Mário, mostrou-me suas poesias guardadas, segredou-me que ele era um menino meio chorão, um indez. E alertou para que eu estivesse sempre preparada, porque até passarinho passa...
Madura, li sua infância, descobrindo nela que a tristeza também é possível.
Sua presença me acompanha até hoje, em cada fio branco que irrompe, cada marca do tempo que emoldura minha face, cada minuto em que respiro...
Às vezes trago as emoções em desalinho tão doce e grandiosa é sua falta.
Seu nome é sua história.
Sua história uma vida que sei por ouvir dizer, mas sua mensagem, tenho certeza, revela que ele era e será sempre um menino inteiro!

.....................



Esses são apenas meus apontamentos.
Ele é único para cada um dos que o viram/ouviram e seguem sentindo. Afinal nascemos livres para o sentir. Ufa!
Em mim ele mora como a árvore. Carbonado em meus passos mais fortes. Os que me asseguram equilíbrio e força.
Sigo como sua poesia, sem eira nem beira até que outros olhos escrevam novos livros com suas leituras.
E isso é o que mais aumenta meu amor por ele, mais me iguala ao supérfluo de sua existência intensa, interna, inteira. Interina nesta terra...
Quando amamos somos igualzinhos, não é verdade?!
E cá estamos: escrevendo, lendo e criando novos livros. Uma história em três atos, sempre.
Mas, já estou falando demais.
Sua obra é para ler em silêncio.
Pega o meu e continue o fio da palavra.

O fio da palavra Bartô...


A primeira parte do texto nasceu em 16 de janeiro de 2013, um ano sem Bartô...
O restante escrevi o seu projeto “Poesia no Parque”, de José Prado, que no sábado, 25 de janeiro, homenageou Bartolomeu Campos de Queirós. 
  


terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Relembrando...


“Fiz a cama na varanda, me esqueci
 do cobertor. Deu um vento na roseira,
meus cuidados me cobriu toda de flor”
 Cantiga Popular 


Num quintal de terra um menino chamado Paulo brincou, driblou dificuldades, sorriu, sofreu, viajou, aprendeu a ler e escrever no chão...
Cresceu ousado, cheio de esperança e certo da importância do ato de ler!
Menino Paulo.
Mestre Freire.
De Recife, uma cidade láááá de Pernambuco.

E aqui no Rio de Janeiro, em Duque de Caxias, quantos Paulos fazem o mesmo?
Quantos meninos e meninas querem dizer e escrever seus dribles nas dificuldades, seus gols de letra vida a fora, suas dores, viagens e brincadeiras?
Quantos Mestres estarão passando por nossas mãos?
Só Deus sabe...
Mas este escola com nome de escritor clássico não quer arriscar perder nenhuma história!
A Escola Municipal Ruy Barbosa entregou lápis, cola e coloridos de todas as formas pros seus alunos SE ESCREVEREM, inscrevendo, deste modo, seus em nomes vidas.
Sim, nossas vidas!
De todos nós, Educadores, que devemos nos manter sensíveis, atentos e ousados.
Neste ano de Copa do Mundo, ganhar ou perder no futebol não deve ser mais do que uma diversão, porque nosso campeonato é bem outro. Nosso melhor desempenho deve ser em outro campo... Somos “técnicos” de jogadores muito valiosos. Não há dinheiro que compre o passe do Amanhã. E não há treino. A regra, eu penso, é que deve ser muito clara:
A cada tombo, levantar.
A cada lágrima, uma prece e, sem pressa, recomeçar.
A cada dúvida, perguntar.
Toda alegria, partilhar.
E pra cada criança, muita, muita brincadeira!
Não nos esqueçamos do que gostávamos na idade deles.
Não nos esqueçamos de tentar o amor sempre, mas com compromisso, comprometimento na formação de seus saberes e valores.

Ops!
Mas esta é uma introdução, ora.
Vamos deixar de papo, porque o bom mesmo começa na próxima página.
Com a palavra as crianças!
E se elas, cansadas de tanto brincar, esquecerem o cobertor - ou uma letra, uma vírgula, um ponto... - sejamos nós aqueles que, cheinhos de cuidado, vamos aquecê-las.
Boa leitura!
 Inverno de 2010

07 de Julho
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Novamente ano de Copa, vale lembrar este prefácio,feito para o livro "Na ponta do Lápis", 
feito por alunos da E.M.Ruy Barbosa, no ano que celebrou seus 20 anos de fundação.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

As meninas

Eram duas meninas.
Uma tinha os cabelos em alfa.
Na outra escorriam rios dourados.

Uma morava ao sul, entre cimento e esperanças.
A outra ao norte, entre mares e andanças.
E as duas acreditavam nas noites de natal!

Uma tecia possibilidades entre as rochas.
A outra era uma rocha de possibilidades.
Mas ambas carregavam água na peneira como seu Manoel.

Nos olhos de uma viviam prado e mel.
Na outra uma noite inteira de estrelas brilhantes.
E tudo nelas era natureza!

O avô de uma fazia pão pra alimentar o corpo.
O avô da outra fabricava letras de comer com os olhos.
Mas as duas adoravam a palavra pão e o pão da palavra.

Uma amava sapinhos bem verdes.
A outra, sapatinhos vermelhos.
E ambas uivavam pra lua!

Uma trazia borboleta azul gravada no corpo.
A outra era ela mesma, uma borboleta a sobrevoar mares e céus.
Mas as duas falavam a língua das fadas.

Um dia, se olharam no espelho das histórias...
As estrelas da noite brilharam no verde prado.
Seus rostos eram irmãos em vida e sonhos!

Então, quando o espanto virou gargalhada
e suas vozes ajustaram os tons,
elas trocaram um abraço, os laços e o endereço.

Agora tem uma borboleta,
forte como uma rocha
sobrevoando ao Sul!


Enquanto ao norte
sapatinhos vermelhos
dançam pra lua.

Mas ambas continuam carregando água na peneira,
e contando, no idioma das fadas,
que todos os dias agora, são noites de Natal! 


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Este texto fiz para minha irmã Kika Freyre
E dedico novamente à ela neste dia em que todas
as nossas orações estarão voltada para sua menina Maria
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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Enxergar o mundo

Às vezes por sobre meus olhos
voam cristais líquidos,
ardentes como fogo,
e não posso ver
senão o que sonho.
Outra hora
vejo tão claramente
o avesso das coisas
que as realidades
me queimam!
Mas não troco
o calor vivo dos
meus olhos
por nenhuma
mansuetude beatífica,
incapaz de enxergar o mundo
em toda sua plenitude!