quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Os bichos estão a solta!

Os bichos estarão a solta em meus escritos para este ano.
Vai ter gato, cachorro, onça, bacurau...
O único que ficou para trás foi mesmo o macaco e a razão é simples: ele é tão querido, mas tão querido, que não consegui pensar em nada original para dizer sobre ele.
Até porque, como muitos outros autores, reescrevi, para contar oralmente, a famosa história do macaco e a a velha, claro!
Isso foi lá em 2005, mas...
Como não vai virar livro, deixo meu jeito de contar essa história, postada aqui, para quem quiser se esticar de rir com esse peralta que habita não apenas o mundo real como nosso imaginário.


O Apetite de Caterina

            Era uma velha chamada Caterina.
              Caterina adorava bananas.
           Em suas refeições era coisa que não podia faltar: geleia de bananas no café da manhã; banana frita no almoço; torta de banana no lanche; e por aí vai! Era mesmo doida por elas!
              Certa manhã avistou um cacho de bananas madurinhas no quintal do vizinho e não sossegou até dar um jeito de chegar bem perto para pegá-lo.
    Acontece que Caterina era muito baixinha e, por mais que se esticasse, não conseguia alcançar sequer a pontinha do cacho. Já ia tendo um siricotico quando se lembrou de um macaquinho que toda manhã macaqueava de um galho para outro nas mangueiras daquele mesmo quintal. Então, era só esperar que ele chegasse pra pedir um favorzinho. O macaco não iria se negar!
   Bem, isso é o que ela pensava...
             Assim que avistou o macaco, a velha pediu:
-          Macaquinho, ô Macaquinho! Bom dia, Macaquinho.
-         Dia Caterina...
-      Macaquinho, meu fio, será que você podia faze um favorzinho pra mim, Macaquinho?! Pega pra mim aquele cacho de bananas, meu filho, pega?!
-          É ruim, hein Caterina. Olha bem pra mim. ‘Cê acha que se eu pegar aquele cacho vou ti dar alguma banana? É ruim hein! Não vou ti dar nem as cascas!
              Disse e fez.
              Comeu todas as bananas. Uma a uma, e não deu nem o umbigo pra velha, que ficou furiosa!
-          Deixa estar, Macaco que fome num dá uma vez só!
              Mandou fazer uma Caterina de cera, segurando uma bacia cheinha de bananas maduras. Cobriu tudo de melado (daqueles que grudam só de a gente pensar neles), pôs na varanda de sua casa, e na manhã seguinte, ficou esperando a hora do Macaco passar.
-          Dia Caterina!
          E a Caterina de cera nada.
-          Ô Caterina, dia!
              E a estátua nada.
-          Fala Caterina, dá um bom dia aí, vai! Banana bonita hein Caterina, dá uma aí?! Ô Caterina, dá uma banana aí?! Não vai dar não é?! Então vou aí pagar!
              E o Macaco foi. 
              Mal colocou a mão nas bananas cobertas de melado e ficou grudado.
-          Pô Caterina, me solta aí?! Me solta Caterina, vou te empurrar hein?!
              E grudou a outra mão, e grudou um pé, e grudou outro pé, a barriga e até o rabo do macaco ficou grudado na Caterina de cera.
              Nessa hora Caterina apareceu, com um sorrizinho no canto da boca:
-          Viu Macaco! Agora você vai ver o que é bom pra tosse!
              Agarrou o Macaco e puxou com tanta força que os pelos do bicho ficaram lá pela estátua de cera!
              Caterina chamou a cozinheira e mandou preparar macaco assado.
              A cozinheira ia raspando o pelo do Macaco e ele ia gemendo:
-          Aí faz assim não que dói, dói, dói, dói! Eu tenho filho pra criar, isso dóóóói...
              Mas a cozinheira nem te ligo, farinha de trigo! Acabou de raspar e foi temperando o Macaco com tudo o que tinha direito. E o pobre ia reclamando:
-           Aí faz assim não que dói, dói, dói, dói! Eu tenho filho pra criar, isso dóóóói...
              Macaco temperado, a cozinheira o pôs no forno. E ele gemendo:
-          Aí faz assim não que dói, dói, dói, dói! Eu tenho filho pra criar, isso dóóóói...
              Macaco assado, assadinho, Caterina, que só por desaforo colocou uma banana na boca dele, sentou à mesa e comeu.
              Comeu a barriga do macaco.
              Comeu o braço do macaco. O outro braço.
              Comeu a perna do macaco. A outra perna.
              Comeu o rabo do macaco.
              E até os olhos do macaco. Tsik! Tsik!
              Ah!
              Satisfeita, a velha foi para seu quarto, e deitou-se na cama pra tirar um cochilo.
              De repente, foi sentindo uma dor forte e esquisita, e de dentro da sua barriga, uma voz ecoou:
-          Caterina, eu quero saiiiiiiiiiir!
-          Aí Macaco, é você Macaco!
-          Caterina, eu quero saiiiiir!
-          Aí Macaquinho, sai pela minha boca...
-          Sua boca tem cuuuuuuussssssspi!
-          Aí Macaquinho, então sai pela minha orelha...
-          Sua orelha tem ceeeeeeera!
-          Aí Macaco, então sai pelo meu olho...
-          Teu olho tem remeeeeeela!
-          Então sai pelo meu nariz...
-          Seu nariz tem meleeeeeeeeeeca!
-          Aaaaaí...
              A velha foi se agachando de dor, e de dor e de dor, até que POOOOOOOOF... Quando olhou para trás, a velha viu o Macaco com um monte de Macaquinho junto, todos com uma violinha na mão e cantando:
-          Eu vi, eu vi, eu vi a bunda da velha,
Eu vi, eu vi, eu vi a bunda da velha!

Nenhum comentário:

Postar um comentário